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Educação nutricional na infância vai além da culinária

Pratos coloridos, com formas e texturas diferentes, auxiliam na ampliação do paladar das crianças

17/10/2022

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Na alimentação oferecida à Educação Infantil do Colégio Sesi da Indústria do Portão, em Curitiba, há muito amor envolvido. A unidade atende cerca de 100 crianças com idades entre 4 e 5 anos e, para isso, a composição do cardápio é pensada de forma muito especial. Afinal, são 100 famílias diferentes, com suas particularidades.

A nutricionista Cristina da Costa Martí afirma que é considerada a aceitação geral das crianças, a época do ano, atrativo da cor, textura e formato de cortes dos legumes, incluindo todos os grupos alimentares e diversificando a oferta semanal para atender todos os macro e micronutrientes necessários para essa fase de desenvolvimento. “A comida é simples, feita com amor, como se feita em casa mesmo: como arroz, feijão, um tipo de carne, um complemento, saladas e uma fruta”, conta.

A unidade oferece às crianças da Educação Infantil quatro refeições diárias: café da manhã, almoço e dois lanches da tarde. Em média, são consumidos 90 kg de carnes, 60 kg de arroz, 35 kg de feijão e mais de 100 kg de frutas ao mês. “Toda a alimentação do cardápio é feita com temperos naturais, como alho, cebola, salsinha e cebolinha. As refeições são preparadas com pouco sal e pouco açúcar adicionados e priorizamos receitas caseiras, sempre que possível”, diz a nutricionista.

Muitas famílias podem pensar que uma alimentação adequada na escola é ter uma grande gama de opções. Vale lembrar que, se fosse dessa forma, a escolha da criança sempre seria pelo que estivesse mais acostumada a comer. O objetivo da alimentação escolar é proporcionar novas experiências e ampliar o paladar.

 

Novos sabores

Quando a criança ingressa na escola, traz consigo os hábitos alimentares aprendidos desde a gestação da mãe, período de lactação, introdução alimentar aos 6 meses e todas as particularidades da alimentação da família. Então, surgem novos temperos, texturas e sabores que, muitas vezes, não foram apresentados a ela. “Geralmente, a criança aceita o que lhe é seguro, como arroz e feijão, por exemplo. Aos poucos, vamos criando um vínculo com a criança, ela se acostuma com os amiguinhos novos, com as professoras, com a nutricionista e merendeiras e, assim, sente-se segura para experimentar novos sabores”, explica Cristina sobre os primeiros passos da introdução à alimentação escolar.

O intuito não é obrigar a criança a comer determinado alimento, mas dar oportunidades para experimentar, conversando e apresentando cores e sabores no prato. “É um processo de muito amor e paciência.”

Cristina aponta que a recusa por determinado alimento pode não estar no sabor, mas na textura ou na forma como é apresentada. “Por exemplo, a criança pode não comer feijão, mas o bolo de feijão, que fazemos na escola, ela come. Ou um caldinho de feijão com macarrão. Crianças nos surpreendem e podem mudar de opinião a qualquer momento”, diz.

Para auxiliar nesse processo, a nutricionista promove o “Encontro com a Nutri” no Colégio. “É um momento que entro em sala e converso com as crianças. Vamos até a horta, ou fazemos uma atividade lúdica, exploramos os alimentos em sua forma íntegra e fazemos culinária. Sem a pressão do prato de comida na frente, as crianças acabam experimentando novos sabores de forma lúdica e inserindo na alimentação. Inclusive, levando mudanças nos hábitos alimentares para a família toda”, comenta.

Receitas diferentes também funcionam para inserir legumes e frutas na alimentação das crianças. Algumas preparações pensadas pela nutricionista e executadas pelas merendeiras ficam atrativas e gostosas. É o caso da pizza de brócolis, o bolo de abobrinha, o requeijão com beterraba, suco verde, farofa de couve e até bolo de feijão.

 

Nutrição no desenvolvimento

É muito difícil gostar de todas as frutas e todas as verduras. Cada um tem suas preferências. Porém, na Educação Infantil, é importante que a criança não exclua um grupo inteiro de alimentos, segundo a nutricionista. “Está tudo bem em não gostar de beterraba, mas, então, é preciso comer outras verduras e legumes.”

Isso porque todos os nutrientes são importantes, independentemente da idade. Quanto mais para uma criança que está em constante crescimento – pele, ossos, musculatura, órgãos. “Portanto, além de proteínas, carboidratos, gorduras e todas as vitaminas e minerais temos que ficar atentos ao cálcio, ferro, zinco, ômega 3 e vitamina A, que são exemplos de nutrientes que não podem faltar na alimentação da criança pré-escolar. A deficiência de algum deles pode causar o comprometimento no desenvolvimento”, afirma Cristina.

A alimentação também afeta diretamente a capacidade de receber, processar e armazenar as informações. Por isso, faz parte do processo pedagógico do Colégio Sesi da Indústria. “Além de falarmos sobre alimentação saudável, também abordamos questões culturais, sociais e afetivas. É possível inserirmos a alimentação em todas as matérias escolares para aprendermos matemática, ciências, inglês, artes, português. As professoras fazem trabalhos incríveis usando a alimentação nas oficinas para abordar diversos assuntos. Educação nutricional não é apenas fazer culinária”, declara Cristina.

Ela explica que, quando a criança é muito seletiva, aceita poucas opções de alimentos e as intervenções não funcionam como o esperado, é necessário um trabalho multiprofissional, com psicóloga, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga e nutricionista.

 

Alimentação em casa

Por mais que a alimentação saudável seja incentivada na escola, é necessário que as famílias auxiliem na formação de um paladar mais saudável. “Quando a criança chega em casa, ela vai consumir o que é hábito da família. Alimentos ultraprocessados, doces, frituras, excesso de biscoitos e bebidas açucaradas devem ser evitados ao máximo. O período da infância é fundamental para formação de hábitos que tendem a solidificar na vida adulta”, acrescenta a nutricionista.