O uso de drogas que alteram o estado mental, chamadas de substâncias psicoativas (SPA), acontece há milhares de anos e muito provavelmente vai acompanhar toda a história da humanidade. Quer seja por razões culturais ou religiosas, por recreação ou como forma de enfrentamento de problemas, para transgredir ou transcender, como meio de socialização ou para se isolar, o homem sempre se relacionou com as drogas.
Essa relação do indivíduo com cada substância psicoativa pode, dependendo do contexto, ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas também pode assumir padrões de utilização altamente disfuncionais, com prejuízos biológicos, psicológicos e sociais. Isso justifica os esforços para difundir informações básicas e confiáveis a respeito de um dos maiores problemas de saúde pública que afeta, direta ou indiretamente, a qualidade de vida de todo ser humano.
O conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de drogas evoluíram constantemente
e muito se basearam na relação humana com o álcool, por ser ele a droga de uso mais difundido e
antigo. Os aspectos relacionados à saúde só foram mais estudados e discutidos nos últimos
dois séculos, predominando, antes disso, visões preconceituosas dos usuários, vistos muitas vezes
como ‘possuídos por forças do mal’, portadores de graves falhas de caráter ou totalmente
desprovidos de ‘força de
vontade’ para não sucumbirem ao ‘vício’.
Atualmente estamos na 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), a qual apresenta as descrições clínicas e diretrizes diagnósticas das doenças que conhecemos. Essa é a classificação utilizada por nosso sistema de saúde pública. Outro sistema classificatório bem conhecido em nosso meio é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - 4), da Associação Psiquiátrica Americana.
Esse conceito de dependência transcende o modelo moral, que considerava beber excessivamente falha de caráter e até mesmo o modelo de doença “alcoolismo”, diagnóstico categorial, em que só se pode variar entre ser ou não portador da doença, sem permitir graduações de gravidade dos quadros; no qual a perda do controle, a presença de sintomas de tolerância e abstinência determinam o indivíduo como sendo ou não alcoolista (dependente de etílicos).
A conceituação da Síndrome da Dependência do Álcool como importante passo rumo às
abordagens modernas. Conforme conceituaram, na década de 70, os cientistas Edwards e Gross, os principais
sinais e sintomas de uma Síndrome de Dependência do Álcool
são os seguintes:
É a autoadministração de qualquer quantidade de substância psicoativa.
Pode ser entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências
prejudiciais para o usuário.
Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), o termo “uso nocivo”
é aquele que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM) “abuso” engloba também consequências sociais.
No quadro seguinte encontra-se uma comparação entre os critérios de dependência referidos nas classificações do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e da Classificação Internacional de Doenças. Esses dois sistemas de classificação facilitam identificar o dependente de substância psicoativa. Veja com atenção:
Comparação entre critérios de abuso e uso nocivo da DSM-IV e CID-10 | |
ABUSO | USO NOCIVO |
Padrão maladaptativo de uso, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativos, manifestados por três ou mais dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses:
|
Três ou mais das seguintes manifestações
|
No Brasil:
No Trabalho:
Fonte: DUARTE, Cláudio Elias ; MORIHISA, Rogério Shiguo.Texto adaptado do original do curso Prevenção do uso indevido de drogas: Capacitação para Conselheiros Municipais. 3 ed. – Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, p.347 / 355 - 2012.