Não existe modelo ideal de programa de prevenção, tampouco melhor ou pior. Existem diferentes possibilidades de abordagem da questão, em que os fatores de proteção devem ser realçados e os fatores de risco, minimizados.
Embora o consumo abusivo e a dependência de drogas sejam constante objeto de estudo dos profissionais da área de saúde ocupacional e seu impacto na segurança seja amplamente discutido no ambiente de trabalho, as ações de prevenção ainda se mostram tímidas.
Felizmente, esse cenário vem se modificando. As organizações brasileiras, na busca de alternativas para diminuir o impacto negativo que o uso de drogas tem na saúde do trabalhador, na produtividade e no ambiente onde ele exerce suas atividades, começam a desenhar suas políticas nesse sentido.
Uma política de prevenção não é privilégio de grandes companhias, nem está necessariamente atrelada ao volume de recursos financeiros disponíveis. Ela depende do reconhecimento, por parte dos dirigentes e dos trabalhadores, de que o consumo de drogas existe e pode afetar a produtividade, a segurança e as relações interpessoais no ambiente de trabalho. A partir daí, a organização pode e deve definir de forma pragmática o que é aceitável ou não em relação ao consumo de drogas por seus colaboradores, as ações de prevenção e o tipo de suporte a ser oferecido para aqueles que já apresentam algum comprometimento decorrente do consumo de qualquer tipo de droga, inclusive o álcool.
Embora a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) arcaicamente ainda legisle sobre a dispensa por justa causa para “embriaguez habitual ou em serviço”, a demissão sumária do trabalhador com problemas decorrentes do uso do álcool e outras drogas vem perdendo força. A substituição pura e simples não garante solução, já que entre 10% e 12% da população economicamente produtiva, acima de 14 anos, tem problemas de abuso ou dependência de algum tipo de droga.
Terão maior sucesso as ações voltadas à abordagem multidisciplinar, capazes de ser implementadas em conjunto pelos profissionais de recursos humanos, saúde ocupacional e segurança. Devem envolver fortemente as lideranças e chefias, a representatividade legítima dos trabalhadores e articular- se com a rede de recursos comunitários, especialmente os serviços da rede pública de saúde.
A elaboração de uma política eficaz para o ambiente de trabalho deverá necessariamente considerar alguns pressupostos norteadores das ações e estratégias de intervenção, de acordo com as ideias de alguns estudiosos e profissionais que desenvolvem ações de prevenção do uso de drogas no ambiente de trabalho. São elas:
Na Escola:
Na Família:
Para o trabalhador:
Para a organização:
Modelos de prevenção | ||
Abordagem | Foco | Método |
Socialização de informações sobre drogas. |
Ampliação do conhecimento sobre os diversos tipos de substâncias, seus efeitos e suas consequências. Promoção de atitudes de mudança de entendimento sobre o uso de drogas. |
Palestras, discussões, áudio ou vídeo, pôsteres, panfletos, mensagens eletrônicas, mensagens em demonstrativos de pagamentos, jornal interno. |
Educação afetiva. Desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais. |
Melhoria da autoestima.
|
Palestras, discussões, dinâmicas de grupo para desenvolvimento pessoal e resolução de problemas. |
Criação de alternativas ao uso de drogas. |
Melhoria da autoestima. Autoconfiança. Redução de condições de estresse, pressão e alienação. |
Organização e desenvolvimento de atividades de lazer, de convivência, recreacionais e culturais; participação em projetos de serviço comunitários; orientação profissional. |
Desenvolvimento de habilidades de enfrentamento ao uso de drogas. |
Desenvolvimento de habilidades para enfrentar a pressão social para o uso de drogas. Ampliação do conhecimento sobre as consequências negativas imediatas. |
Discussões em grupo, dramatização, atividades monitoradas por profissionais especialistas em prevenção. |
* Turn over é o movimento de entradas e saídas, admissões e desligamentos de
profissionais empregados de uma organização.
* Absenteísmo é a ausência do
trabalhador ao serviço, quando se esperava que ele
estivesse presente.
Fonte: CRUZ, Déborah D. de Oliveira ; DUARTE, Paulina do Carmo A. V.; TROIAN, Sandra M. de Lima.Texto adaptado do original do curso Prevenção do uso de álcool e outras drogas no ambiente de trabalho: Conhecer para ajudar. 3 ed. – Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, 2012.